Depressão pós-parto, pode ser evitada?
Se você está pensando em engravidar, se você já é mãe, ou se é profissional que trabalha com gestantes e/ou mães no pós-parto, deve ter ouvido falar em Depressão Pós-parto! Porém, pode parecer algo muito distante de nós, que só ocorre com os outros, que é algo raro, com aquelas pessoas que são fracas, ou que não conseguem controlar suas emoções. A realidade pode ser um pouco diferente. Estudos mostram que 1 a cada 4 mulheres apresentam Depressão Pós-Parto.
E afinal, O que é depressão pós-parto?

De acordo com o Ministério da Saúde, o conceito seria o seguinte:
A depressão pós-parto é uma condição de profunda tristeza, desespero e falta de esperança que acontece logo após o parto. (Ministério da Saúde, 2021).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 10% das mulheres grávidas e 13% das puérperas apresentam um transtorno mental, e a depressão pós-parto pode atingir de 10 a 20% das puérperas. Essa prevalência pode ter ganho amplitude com o contexto da pandemia nos últimos dois anos, com algumas pesquisas já apontando para uma taxa maior de 38% de mães com depressão pós-parto.
E de acordo com a American Psychiatric Association, 50% dos episódios de depressão que ocorrem no puerpério se desenvolveram no início da gravidez.
Ressalto que devemos ter um olhar muito atencioso com essa fase da vida em que a fertilidade e a maternidade afloram, e o desejo de gestar, a gestação, o parto e o pós-parto, podem se tornar momentos de profundas alegrias, mas, também, podem abrir as portas para alterações emocionais significativas, podendo estas, tornarem-se transtornos mentais mais graves, como a Depressão Pós-parto.
Os critérios de avaliação dos sintomas são semelhantes aos transtornos depressivos existentes em outros períodos da vida. Abaixo serão descritos alguns sintomas. Ressaltando que na ocorrência de alguns deles, pode ser indicativo para uma avaliação mais criteriosa em busca de um diagnóstico, em que é necessária uma escuta clínica por profissionais de saúde mental, como Psiquiatras ou Psicólogos.
· Humor deprimido ou perda de interesse/prazer em atividades diárias.
· Alterações significativas de peso (perda ou ganho excessivo e involuntário).
· Vontade de comer mais ou menos do que o habitual.
· Mudanças no padrão do sono (Insônia ou hipersonia).
· Agitação ou retardo psicomotor.
· Inquietação e indisposição constante.
· Cansaço extremo.
· Sentimentos de inutilidade ou culpa.
· Pensamento na morte ou suicídio.
· Vontade súbita de prejudicar ou fazer mal ao bebê.
· Capacidade diminuída de pensar, concentrar e tomar decisões.
· Ansiedade e excesso de preocupação.
· Medo de que aconteça algo com o bebê.
· Falta de autocuidado.
É muito necessário, voltar nosso olhar para a saúde emocional da mulher, do homem e da família que está no processo de receber um novo membro na família. As mudanças que essa chegada traz para a rotina de todos, somada ao contexto atual e da história de vida de cada um dos indivíduos, podem fazer surgir fontes de angústias e adoecimentos. Esse é um ponto importante que merece destaque, pois, cada mulher e cada homem, vai ter sua vivência única, com significados pautados em sua história individual, desde muito antes de se tornar mãe e pai.
Não há uma causalidade única para o início da Depressão. Alguns fatores podem ser prediletores de risco para o surgimento da depressão pós-parto, como, por exemplo:
· Depressão pré-natal,
· Ansiedade,
· História psiquiátrica anterior,
· Instabilidade conjugal (Problemas no relacionamento com o parceiro),
· Eventos estressantes, como em casos de Transtorno de Estresse Pós-Traumático,
· Atitude negativa em relação à gravidez,
· Falta de apoio familiar e social,
· Idade muito jovem,
· Violência doméstica, psicológica, sexual (ou qualquer outro tipo de violência),
· Questões financeiras,
· Consumo de álcool e drogas
Há também fatores que após o nascimento podem contribuir para a Depressão, como por exemplo, partos prematuros, internações dos bebês em UTI, gravidez múltipla, gravidez não planejada.
Agora vem a pergunta que você pode estar se questionando: Depressão Pós-parto pode ser evitada?
Entendo que esta é uma interrogação muito interessante! Acredito que podemos trabalhar estratégias de fortalecimento dos recursos internos da mulher e do homem, para que possam ter melhores condições emocionais de enfrentamento dos desafios peculiares a esta avalanche de transformações que irão passar para a receber seu filho. Mudanças de âmbitos físicos, emocionais, relacionais, sociais, profissionais, financeiras, podem ter um impacto profundo na qualidade de vida. Acolher, orientar e cuidar do casal e da família é uma forma de prevenção ao adoecimento emocional de todos!
Então vamos lá... Um conceito que considero fundamental é AUTOCONHECIMENTO! Gente, as pessoas estão deixando de se conhecer... De entender suas emoções, de respeitar seus sentimentos... Não que isso seja de propósito. O que percebemos, é que tem um padrão social grande de cobrar sobre quem você deve Ser... Começamos desde a forma como cada um foi inserido em um contexto de família. E engravidamos e começamos a fazer planos para nosso bebê: Nossa, seria incrível se fosse médico igual ao pai! Minha filha bem que podia ser uma Desembargadora! Faz parte dos pais de desejarem coisas boas e felizes para os filhos. Só precisamos saber dosar. Porque ser criado dentro de grandes expectativas, também gera cobranças, gera culpas e adoecimentos. E esse padrão é muito comum em todos os níveis da sociedade. Qual profissão vai ter, quando vai casar, quantos filhos... São feitas idealizações por outras pessoas, e o indivíduo deixa de olhar para o que realmente faz vibrar seu coração. Viver para cumprir o que os outros planejam para nós pode custar muito caro para nós mesmos. Quando falo de autoconhecimento, é você resgatar sua identidade, seus desejos, seus planos de vida, seus sonhos. Aquilo que faz sentindo para sua essência!
Um segundo conceito é de AUTOACEITAÇÃO! Como é difícil você olhar para si, e aceitar a pessoa que está a sua frente refletida no espelho! Aceitar quem sou, aceitar como sou, entendendo que tem coisas que podemos transformar (caso seja nosso desejo), e tem coisas que achamos que devemos ser por causa dos outros. A AUTOACEITAÇÃO, vem dar as mãos ao AUTOCONHECIMENTO. É sobre mim, e não sobre os padrões sociais e os desejos impostos pelos outros.
Seguimos e vamos para o próximo conceito que é AUTOCUIDADO. Sim, essa é uma palavra que sabemos que existe, sabemos que é importante, sabemos que precisamos, mas... deixamos de lado, na busca desenfreada de alcançar os planos imaginados. A vida nas últimas décadas parece que vem passando de uma forma mais rápida... Todos correm... adultos, crianças, ficamos na dúvida se o relógio marca mesmo 24 horas, porque não temos mais tempo para fazer nada! Escuto demais, mas não tenho tempo de me cuidar. Não tenho tempo para mim, pois estou grávida ou tenho meus filhos, marido, família, amigos, casa, estudo, emprego, etc. E vamos nos perdendo... Nos deixando de lado... Na realidade das gestantes e mulheres com seus filhos recém-nascidos, então, bem que parece que o tempo corre e escorre de nossas mãos ainda mais rápido. Porém, é importante entender que para cuidar do outro, é necessário ter um mínimo de cuidado com você. Gosto muito do exemplo, quando entramos no avião e a comissária de bordo vai dar as explicações de segurança, ao falar das máscaras de oxigênio, ela informa que você precisa colocar primeiro em você, para ter condições de então ajudar aos que precisam. Sem você ter oxigênio na sua vida, você não vai conseguir ajudar seus filhos, sua família e nem a você mesmo.
Às vezes, nem paramos para olhar para isto, e em um momento como este que estamos aqui falando de saúde, percebemos que é uma escolha, e é um processo, que é algo diário, que tem dias que vai dar super certo, tem outros que não. Mas eu sei o que desejo, eu me aceito, e eu me cuido!
Dentro do AUTOCUIDADO, vou mencionar alguns pilares que consideramos muito importante: Alimentação, Atividade física, Educação emocional e Espiritualidade. Olhar para estes pilares já podem fazer uma enorme diferença na sua qualidade de vida. Mas lembrando aqui um aspecto, o Autocuidado vem dar as mãos ao Autoconhecimento e Autoaceitação, de que você precisa achar as atividades que fazem sentido para você, por isso precisa se conhecer, para entender qual a atividade física te dar prazer ao executar. Tem gente que é a dança, tem outras que é academia, tem uns que é caminhada. A alimentação pode ser fator determinante na sua saúde, a desregulação de algum hormônio ou carência de algum nutriente, também podem alterar sua disposição, humor, sono, e metabolismo em geral. Por isso, sempre pergunto e incentivo às minhas clientes como está a alimentação, se tem ido nas consultas de rotina médica. A espiritualidade, que aqui não falo especificamente de uma religião, mas volto a dizer que você precisa se conhecer para saber qual o seu sentido de vida e de força maior que te rege, já temos estudos que comprovam a importância de se ter Fé nos processos de melhoria das doenças e qualidade de vida. E por último, mas não menos relevante, temos a educação emocional, que pode ocorrer de algumas formas, e que a psicoterapia é uma delas, que ajudaria a entender e trabalhar suas emoções para lidar de forma mais equilibrada com os desafios da vida. Pois gente, sempre haverá curvas em nossas estradas, sempre terão dias chuvosos e com neblina, então a forma como vamos olhar para estes acontecimentos é que pode ser modificada. Tem gente que vai gostar do sol e calor e fica chateada quando cai a chuva. Tem outras que vão ver na chuva uma nova oportunidade de receber bençãos.
Mencionei alguns recursos que podem ser buscados de forma individual, mas para algumas pessoas, pode ser necessário ter a ajuda de profissionais que auxiliem na travessia destes momentos desafiadores. Ressalto o Pré-Natal Psicológico, idealizado pela Psicóloga Fátima Bortoletti, na década de 70, e definido por ela como um método de fortalecimento do casal para prevenir a depressão pós-parto e a psicose puerperal.
Utilizando a definição de Pré-natal Psicológico, feito pela Psicóloga Dra. Rafaela Schiavo:
“É uma técnica da Psicologia Obstétrica/Perinatal para o atendimento de gestantes, casais grávidos e familiares, que visa oferecer acolhimento e orientação psicológica preventiva para alterações emocionais significativas próprias deste período, ou evitar a sua cronificação no Pós-Parto.”
Essa é uma forma de atuação que precisa de maior alcance para o cuidado emocional destes novos pais.
Gostaria de destacar ainda, alguns pontos que considero protetivos para as Mulheres e Homens que mergulham no mundo de se tornarem Mães e Pais:
· Aceitar os erros que podem acontecer, deixando de lado o perfeccionismo;
· Buscar manter o diálogo mais sincero e transparente entre o casal, usando uma comunicação mais assertiva e empática possível;
· Procurem ter uma rede de apoio fortalecida e acolhedora, dividindo as tarefas;
· A culpa vai te visitar, tente não dar ouvidos a sua autocobrança e a cobrança social;
· Faça um movimento de buscar informações em base seguras, para minimizar as ansiedades e inseguranças que são bem presentes;
· Forme vínculos de segurança com a equipe que estar ao seu lado neste processo;
· Chore quando for necessário! Descanse quando for possível! Procure ajuda quando achar que não consegue sozinha! Tudo isso é a maior prova de sua humanidade e de sua busca por se sentir melhor e ser feliz!
Um aspecto que pode ser ressalto é que na ocorrência da Depressão Pós-parto, pode ter uma alteração no desenvolvimento do bebê, com a presença de atrasos na evolução motora, emocional e social do mesmo. Uma mulher que não consegue ter a energia para materna (por mais que este desejo esteja presente, mas que é impedido pelo adoecimento), pode deixar carências de estímulos adequados para seu recém-nascido!
O que foi exposto aqui neste breve texto, são estratégias que podem ser utilizadas para buscar a prevenção da Depressão Pós-parto, mas ressalto que, assim como a Maternidade/Paternidade não nos dá garantias, também não temos como afirmar categoricamente que a depressão não aconteça. O que buscamos é minimizar as chances e a intensidade, caso apareça. O trabalho interdisciplinar é fundamental para o alcance deste objetivo.