Relato de Parto | Duda Bachur, mãe da Teresa
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Relato de Parto | Duda Bachur, mãe da Teresa

Atualizado: 6 de nov. de 2020

Relato de parto como forma de agradecimento aos relatos de outras mães que me fizeram mais forte para quando chegasse o meu momento.


Sábado, 16 de fevereiro.


Acordo as uma e pouca da manhã, com dor de barriga. Vou no banheiro e sai um pouco do tampão mucoso com sangue. Não quis me animar, afinal, li e ouvi mulheres que ficam dias perdendo o tampão. Mas, mesmo assim, me animei. No tempo de voltar pra cama, sinto outra pontada. Era cólica. Fiquei mais animada. Deitei na cama pra sentir todas aquelas ondas que passavam no meu corpo. A cólica se transformava em contração. Bem leve e eu estava tão animada que quase poderia rir.


Peguei o aplicativo e comecei a monitorar a duração e o intervalo de tempo, afinal, só é trabalho de parto se estiver regular. E não estava. Pródomos ainda. Não quis me animar, afinal li e ouvi mulheres que ficam dias em pródomos. Mas, mesmo assim, me animei. E fiquei até umas três e meia deitada na cama, olhando o Instagram e todo o bafafá da família Poncio, aguardando as minhas contrações. Felipe dormia do meu lado e eu não quis alertar porque eu sabia que poderia ser nada. O sono venceu a euforia em alguma hora e eu dormi. Às quatro e pouca acordei com dor nas costas, não o suficiente pra eu reclamar, mas eu queria testar uma coisa: pensei em tomar um banho quente, se não for nada, tudo passa. Se for algo, tudo engrena. Tomei. As cinco horas as contrações passam a ser um pouco mais doloridas ao ponto de ter que levantar, não dava mais para curti-las deitada. Me animei. Felipe acorda nesse momento e eu passo o relatório, sempre alertando: mas relaxa, pode ser que só nasça amanhã!


Afinal, na monitorização das contrações, ainda não estavam regulares. Começou a minha dança: deitava. Vinha contração, levantava e batia palmas. Era até gostoso. Eu estava animada com o que eu iria viver. Ia no banheiro, mais mucosa com sangue e a dorzinha nas costas. As seis da manhã, decidi mandar mensagem pra doula Lettycia. Relatei tudo, brinquei com o layout do aplicativo que usava pra contar as contrações e assinei: não precisa vir e nem se preocupar: são pródomos ainda.


As seis e pouca casa estava toda acordada, entre as contrações separei uma roupa pra sair, caso necessário, comi meu último alimento antes de Teresa vir, pus um espelho perto da mala, pois tinha imaginado ver Teresa coroando quando chegasse a hora, pus água na planta. As sete, contra minha vontade, Felipe liga pra doula. Eu jurei que tava tudo bem, podia vir bem mais tarde. Felipe e Lettycia ficaram conversando pelo WhatsApp e ela decidiu vir. Pensei: pode vir, mas pode ser que demore pra começar o trabalho de parto.


As oito, antes da doula chegar, pedi uma massagem na lombar do Felipe, uma que Lettycia nos ensinou: fiquei de quatro, apoiada na bola de pilates, Felipe cobriu meu quadril com o rebozo e movimentou com vigor de um lado pro outro. Era ótimo. Levantei feliz. Até que sinto e ouço dentro de mim um estouro. A bolsa estourou. Eu ri de emoção, porque nunca na vida tinha sentido algo tão sinergético. Não quis me animar, afinal, li e ouvi casos de bolsas rotas de 72h! Mas, mesmo assim, me animei. Me animei mais ainda quando as contrações aumentaram e eu senti, de verdade, a dor. Nessa hora a doula já tinha chegado em casa. Fez massagem maravilhosa em mim com óleo, pedi pra ir pro chuveiro. Já não conseguia conversar muito e nem monitorar as contrações.


Lettycia e Felipe contavam as contrações segundo minhas orientações. Vinham em um espaço menor de tempo, porém, curtas demais para estar na fase ativa. Lettycia me fala que já chamou a fotógrafa e pergunta se eu quero esperar em casa ou ir pro hospital. Decido que vou ficar em casa e, antes mesmo dela se distanciar do banheiro, penso que naquele momento eu deveria me entregar inteiramente pra minha intuição. Vamos para o hospital. Ponho a calcinha, contração. Ponho a roupa, contração. Desligo o ventilador, contração. 9 horas, chamam o Uber. Contração. Desço as - contração - escadas. Entro no carro, contração, sinal fechado, contração, música alegrinha na rádio, Felipe cantarola pra mim - shiu - contração. Esse hospital nunca chega. Contração. Cheguei, 9h15. Contração. A doula faz minha entrada, o caminho da triagem eu já conhecia, CHN foi minha escolha planejada nas duas últimas semanas após a mudança de planos.


Cumprimento a enfermeira, ela quer medir minha pressão sentada, contração, não consigo. Gentilmente digo que não consigo e peço desculpas. Ela insiste e Felipe intervém: ela não consegue, contração. Vou pra enfermaria, querem fazer cardiotoco. Deitada. Plugada em uma maquina. Contração. Eu não consigo, peço desculpa. As enfermeiras insistem, é protocolo. Contração. Felipe intervém: ela não consegue. As contrações vinham mais intensas, agora realmente dolorosas. Eu em pé, esperando para ir pro quarto e liberarem o quarto do parto adequado: com banheira, banqueta, bola.


Contração. Tenho medo e a internação demora. Estou com medo, falava pro Felipe repetidamente e ele dizia: - está tudo bem com nossa filha. Mas não era isso. Estou com medo. Ela está vindo. Era isso. Lettycia ia e voltava. Ela estava cuidando de tudo pra que eu e Felipe ficássemos juntos, como eu queria. Fotógrafa chegou. Cumprimento a Érica, que eu já conhecia. Contração. Falo que eu quero ir ao banheiro - sinal - contração, grito. Lettycia ouve do corredor e vem até onde eu estava. Digo que quero fazer força . As enfermeiras indicam o banheiro. Lettycia entende o sinal. Contração. Ela tira meu macacão. Contração, ela tira minha calcinha. Felipe me escora por trás, Lettycia segura um braço, eu me agacho. Contração. Érica aponta pra enfermeira pra ela recepcionar Teresa. Contração, me agacho. A enfermeira diz que é pra eu ir pra cama pois eu estava fraca. Não tô fraca não, digo. Ela só não sabia como proceder, percebo. Contração, grito agudo. Lettycia me fala no ouvido “ela já está aqui, saiu a cabeça, ela tá aqui”. Tenho olhar, não enxergo, ouço Felipe chorando atrás, contração, sabia que ia vir tudo, algo escorrega dentro de mim. 9h47 e lá está ela. Teresa. Tudo pareceu mais lento do que estava, por alguns milésimos ela não se mexeu, me preocupei. Se mexeu. Peguei e gritei. E tudo na minha mente virou poeira. Teresa estava ali. Eu consegui.



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